Ele tem o dom de fazer sorrir. Mario de Moraes, mais conhecido como Seu Mario da Beija-Flor, sabe como recepcionar cada visitante da Casa. Aos 86 anos, com muita energia e vitalidade, Seu Mário é um dos porteiros da instituição.
Basta apenas alguns minutos ao seu lado para esquecer a tristeza. Residente na Casa há mais de 20 anos, Seu Mário contagia a todos com a alegria. Desta forma, ele conquista o carinho e a admiração de todos o que estão ao seu redor e, também, daqueles que passam para conhecer a Casa.
Sr. Mário de Moraes, a alegria da Casa
Ele não perde a oportunidade de contar uma piada. “Era uma vez um fusquinha vermelho em uma estrada deserta. Havia três homens dentro do fusca: um brasileiro, um japonês e um português. De repente o carro quebrou. Então, o brasileiro disse: ‘Vou procurar um mecânico para consertar o nosso carro, mas vou levar o radiador, de repente eu sinto sede, aí eu pego água de lá.’ Em seguida o japonês se pronunciou: ‘Eu também vou atrás de um mecânico, mas, para prevenir, vou levar o banco do fusca, caso eu fique cansado, é só sentar no banco.’ Aí o português falou: ‘Eu também vou, mas vou levar a janela. Se eu sentir calor, é só abrir o vidro’”.
Além de ser um mestre na arte de ser feliz, Seu Mário é apaixonado pelo carnaval carioca. Sua escola do coração é a Beija-Flor de Nilópolis e, ao pensar nela, Seu Mário canta alguns sambas de enredo e dá o famoso brado do Neguinho: “Olha a Beija-Flor aí, gente!”
Sempre disposto a recepcionar bem, Seu Mário tem um milhão de histórias para contar. Por isso, quando for à Casa São Mateus, não perca oportunidade de conhecê-lo.
Estar à frente de uma instituição sem fins lucrativos não é uma tarefa fácil. Porém, existem pessoas que aceitam o desafio e, uma delas, é o Dr. João Américo Alvim. Formado em Ortopedia e pós-graduado em Geriatria, o Dr. João Alvim é o atual presidente da Casa São Mateus e acumula, também, a função de Diretor Técnico da instituição.
Dr. João Américo Alvim, Presidente e Diretor Técnico
da Casa São Mateus
O interesse pelos idosos não surgiu do nada. Dr. João é filho do economista Raimundo Alvim, fundador da Casa, e desde cedo, acompanha a trajetória da Casa e o serviço por ela prestado aos idosos. “A única intenção que temos é ajudá-los a viverem com alegria e manter uma casa onde eles possam se sentir seguros. Aqui, os idosos podem sair a qualquer instante. Muitos deles fazem suas caminhadas e compram algo nas lojas. Eles são livres”, enfatiza.
Segundo o Dr. Alvim, a Casa vem passando por dificuldades econômicas há muito tempo. “A casa, atualmente, sobrevive graças a doações de alimentos não-perecíveis e roupas, realizadas geralmente por pessoas físicas”, conta.
Tal situação teve início com o fim do convênio com a Fundação Legião Brasileira de Assistência, durante o governo Collor e foi agravada pela perda do convênio com a Prefeitura para apoio nutricional, ocorrida em 2000.
Sem a ajuda do Poder Público, a assistência se torna quase inviável. E, além das despesas com água, luz, telefone e insumos, recentemente, a Casa precisou passar por diversas reformas exigidas pela Vigilância Sanitária, o que aumentou os gastos.
Perguntado sobre doações oriundas de empresas privadas, o médico relata uma triste realidade. “Uma vez ou outra uma empresa privada nos ajuda, mas é raro. Se não fosse a solidariedade das pessoas, talvez a casa nem existisse mais”.
Assim, a Casa segue em frente, buscando, a cada dia, atender melhor aos seus internos. “Nós gostaríamos muito que tivéssemos doações regulares, de grandes empresas ou do próprio governo, e não apenas em certas épocas do ano. Porém, toda ajuda é bem-vinda, e nós agradecemos de coração a todos que nos enviam alimentos, roupas ou dinheiro”, encerra.
Trabalhar em uma instituição para idosos pode ser algo muito gratificante. Pelo menos, para Cristina Fernandes Pinto, secretária da Casa Geriátrica São Mateus, tem sido assim.
Há 16 anos atuando na instituição, ela é responsável pela internação de novos idosos e pela administração da casa. “Sinto-me feliz por fazer um trabalho útil para a sociedade. – É gostoso trabalhar aqui. É muito bom saber que meu trabalho faz com que outras pessoas se sintam melhor”, afirma.
Cristina: "Aqui eles encontram um segundo lar"
Mas nem sempre foi assim. Hoje, aos 47 anos, Cristina ainda lembra como foi a primeira internação que realizou, de uma senhora chamada Elza Cristina. “Ela foi internada pelo filho único. Ela chorava muito, pois não queria ficar.” Tal imagem ficou gravada na memória de Cristina. “Eu pensava: Como pode um filho fazer isso com a própria mãe?”, diz.
O tempo passou e fez com que Cristina percebesse que não são todos os idosos que reagem mal à internação. “Muitos idosos não possuem família e aqui eles encontram um segundo lar”, conta a secretária.
E não são apenas os idosos que encontram um segundo lar na Casa. Cristina também encontra, na tranquilidade da Casa, motivos para sorrir. “Eu adoro os idosos, são uma distração para mim. Ás vezes, tenho problemas em casa e chego aqui e me divirto, bem mais com eles do que quando estou de folga”, finaliza.
Residente na Casa Geriátrica São Mateus há 11 anos, Olívio Marques, 70 anos, é a prova viva de que é possível ser feliz vivendo em uma instituição para idosos. Ele faz questão de ajudar na administração da casa, exercendo a função de porteiro por vontade própria. "Quero me sentir útil. É muito chato passar o tempo todo sem fazer nada", diz com satisfação.
Seu Olívio: "Aqui eu tenho tudo o que preciso"
Os idosos não são proibidos de saírem da casa e muitos deles passeiam pelo bairro. “Eu costumo, pela manhã, fazer umas caminhadas aqui nas ruas próximas da casa. Não vou para muito longe senão eles (os responsáveis pela Casa) brigam com a gente, mas eu sei que eles se preocupam e estão certos”, afirma o idoso.
Além dos passeios pelas ruas de Guadalupe, Seu Olívio também gosta das festas que ocorrem na Casa São Mateus. “Nem sempre é possível nós termos festas aqui, porém, quando é comunicado que uma irá ocorrer, eu sempre tento ajudar na arrumação e, claro, também me divirto e brinco bastante”, conta.
Apesar de morar na Casa há tanto tempo, Seu Olívio tem um filho, que vai visitá-lo sempre que pode. Orgulhoso, ele mostra alguns dos presentes que já recebeu do filho, dentre os quais um relógio que ganhou no último natal. Mesmo longe da família, Seu Olívio afirma que prefere morar na Casa a morar em outro lugar: “Aqui eu tenho tudo do que preciso, pode acreditar, sou muito feliz”, conclui.
Sorrindo. Foi assim que encontramos a auxiliar de enfermagem Kátia Regina Magalhães Cardoso, na Casa São Mateus. A história de Kátia na Casa começou em 2003, quando uma amiga a convidou para conhecer a instituição. A partir desse encontro, Kátia deu início ao seu trabalho voluntário na Casa.
Porém, como a vida reserva surpresas, após um ano de trabalho voluntário, a nossa querida enfermeira ficou doente e precisou ausentar-se. Seu afastamento da casa, ocorrido em 2004, foi inesperado e muito triste para todos.
Kátia: "Eu faço por amor"
Segundo Kátia, a vontade de retornar às atividades na Casa foi um grande incentivo para que ela lutasse para recuperar-se completamente. Movida por este desejo, ela recuperou-se totalmente e a volta ao trabalho, em 2005, foi repleta de alegria.
Com uma jornada de 12 horas em dias alternados, Kátia afirma que não recebe salário para atuar na casa: “Não recebemos nada pelo que fazemos, eu faço por amor”, ressalta Kátia, dizendo que pretende ficar velhinha aplicando injeção em qualquer idoso da Casa que necessite de cuidados.
Há mais de cinco anos trabalhando na São Mateus, Kátia conta que já testemunhou várias histórias alegres e outras tristes. Para ela, participar da recuperação de um idoso é algo fantástico e não existe palavra no mundo para explicar a emoção de ver um sorriso no rosto deles ao receber um carinho ou uma visita.
Outro momento alegre apontado por ela é quando acontecem as festas na casa, das quais ela tem lembranças engraçadas. E, ao tocarmos nesse assunto, ela se emociona e relata o que sente enquanto participante desse trabalho. As palavras fogem, são atropeladas, mas depois de um esforço, ela fala: “Não existe dinheiro no mundo que possa comprar esse tipo de parceria, faço isso por amor, não me sustento através da Casa. Não há palavra no mundo para explicar esse sentimento tão forte”.
A Lona Cultural Terra está realizando uma campanha para arrecadação de alimentos e materiais de higiene e limpeza para a Casa Geriátrica São Mateus. As doações devem ser entregues na secretaria da Lona, a partir das 10:00h da manhã até às 06:00h da tarde.
Atualmente, a Casa necessita, principalmente, de doações de materiais de limpeza e higiene pessoal, além de leite em pó e outros tipos de alimentos não-perecíveis utilizados na alimentação matutina dos idosos.
Os interessados em fazer doações podem se informar pelo telefone (21) 3106 -3750 ou comparecer na Lona Cultural Terra, que fica na Rua Marcos de Macedo, s/nº, no bairro de Guadalupe.